terça-feira, 2 de novembro de 2010

Relatos de um Sobrevivente

Capitulo Primeiro

O Estranho

Clique aqui para ler o começo da história


Entrei pela porta ainda chocado com o que haviam me dito, toquei minha faca na bainha para dar boa sorte, limpei o suor da testa, e com meus olhos castanhos eu o encarei.

Ele estava sentado e amarrado numa cadeira, numa sala vazia, onde estávamos apenas eu, ele, e outros 2 jovens  recrutas que eu mesmo havia treinado.

_Quem é você? 
 Sua resposta foi um amontoado de grasnados irreconhecíveis.
_Ele não fala nossa língua senhor. -Respondeu um dos aspirantes.

O outro me estendeu um pedaço de pano, que escondia algum artefato por baixo, peguei e abri. Fiquei atônito.
_ Estava portando isso senhor, encontramos ele vagando por uma das grandes avenidas gritando como se estivesse perdido, nossos homens o surpreenderam, mas ele a usou contra nós. O aspirante Peixoto foi gravemente ferido, e já está aos cuidados dos médicos.

Eu não podia crer. Ali em minhas mãos se encontrava um legítimo revólver Magnum .357, preto de acabamentos em madeira, e funcional! Não havia mais fábricas de armas de fogo a quase 500 anos, e as últimas munições e armas usáveis não eram vistas desde os tempos do meu avô, tudo que tinhamos em nossa comunidade eram algumas armas caseiras, que causavam poucos danos, e alguns fogos de artifício, que talvez nem funcionassem mais, mas ali na minha frente, estava algo que provava o contrário. 
Eu precisava descobrir de onde aquele forasteiro vinha, ter aquele tipo de arsenal era simplesmente nunca mais ser incomodado por nenhum clã, tribo, comunidade ou agrupamento de pessoas. Era simplesmente poder.

Eu olhei para o forasteiro. Loiro, de cabelos lisos e olhos esverdeados, e me encaravam com raiva. Não era para menos. Eu dei ordens para deixarem-no em paz, mas depois de atirar em um dos aspirantes, ele foi espancado, trazido a força e amarrado brutalmente naquela cadeira. Uma veia de sangue escorria de uma de suas sombrancelhas descendo pela face, e seu rosto estava desfigurado de hematomas roxas. Não fosse por todos aqueles ferimentos, ele seria um homem bonito. Talvez o mais bonito que eu já tivesse visto.

_Vocês têm alguma idéia de que língua ele está falando?
_Não é nenhuma língua latina senhor, caso fosse talvez tivéssemos conseguido entender em partes, também não é inglês, já que algumas pessoas dentre nós sabe falar, e eu tive algumas aulas quando criança, apesar de não ter aprendido muitas coisas. Eu achava aquilo extremamente chato. Pra que aprender línguas que já morreram? A nossa própria já está quase morta mesmo.
_Cuidado com o que fala perto de mim aspirante.
_Desculpe senhor, mas como eu estava dizendo, não é nenhum desses dialetos comuns que conhecemos. Mas existe um homem, se bem me lembro, junto dos que moram na antiga estação, que sabia falar pelo menos 8 dialetos. Mas é loucura ir atrás dele. Você bem sabe o que aqueles monstros são capazes de fazer.
Dei uma risada.
_Sim, eu sei, mas é a unica forma de descobrimos o que esse garoto tem para nos contar. Vou falar com o Capitão Cortez, e talvez encontremos uma boa solução para isso.

Virei as costas e deixei os dois aos cuidados do desconhecido.

Sai daquela sala e andei por um corredor, uma tocha presa por um suporte de madeira já estava acabando, deixando o ambiente meio assustador. Eu ri. Do alto dos meus vinte poucos anos, eu já havia visto coisas muito piores que um pouco de escuro.

Desci um lance de escadas e sai da casa. Olhei para as ruas e dei um suspiro.

Não éramos o mundo que havíamos sido no passado. Não havia mais eletricidade, tínhamos que pegar água nos pontos onde antigos canos não haviam entupido ou quebrado, já não construíamos mais nada, apenas vivíamos nas antigas construções de outrora.
Mas aquela nossa comunidade era um dos poucos pontos que ainda parecia civilizado. As casas tinham manchas pretas com o tempo, sim, e algumas agora eram apenas amontoados de pedras, mas nós conseguimos criar um pouco de ordem. Foram nossos avós que se juntaram e começaram aquilo. Primeiro segurança, depois disciplina, e por fim, ordem. Naturalmente pessoas foram ouvindo falar de um lugar onde era possível viver em paz, sem ter medo de ser comido por feras em qualquer noite sem luar. E quando digo feras, falo tanto de homens como animais. Ou o que restou de homens.

Mandei um soldado que estava de sentinela chamar Cortez. Ele prestou continência e saiu as pressas, e logo chegou o capitão. Era um homem alto e robusto, de metro e noventa. Sorriso largo e fácil, que dava tapas em nossas costas e ria enlouquecidamente enquanto bebia sua grande caneca de cerveja. É interessante como a filosofia e os bons costumes podem ter se perdido com o tempo, mas o ser humano de alguma forma jamais se esqueceu de como se fabrica cerveja. Algumas coisas talvez nunca mudem.

Cortez chegou rápido, com seus passos largos, e me perguntou o que era com sua calma costumeira. Entreguei para ele a arma. Ele ficou sério.
_Então, é verdade?
_Sim senhor.
_Pensei que fosse. Mas nunca acreditei que fosse ver uma dessas na minha frente, muito menos pegar.
_Ele também tinha outras 40 munições numa mochila, além de uma faca de esfolar, comida e algumas fotos.
_Pois bem, vamos ver quem é esse sujeito excêntrico que anda tirando a paz da nossa comunidade.

Entramos novamente na casa, falei sobre minhas idéias e meus pensamentos para o capitão, que ia respondendo de forma curta, e sempre com os olhos fixos na arma. Eu falava mais para mim, que para ele, ia juntando os fatos, pensando se havia esquecido alguma coisa, algo de importante. 
Ele me entregou a arma quando entramos e olhou para o forasteiro. Eu a coloquei em meu bolso e a esqueci ali. Isso viria a salvar minha vida algumas vezes dali para frente. Foi nesse momento que um pensamento frio gelou meu sangue.

_Aspirante, vocês disseram que haviam encontrado ele gritando, como se procurasse por alguém?
_Sim senhor.

Meu coração disparou por alguns segundos, olhei para a janela, e lá numa lateral na rua, um homem portava um rifle de Assalto AK-47. Outros como ele se espalhavam por toda parte, um num telhado, outros em toda a rua, em posição de ataque, e posicionados para nos matar.

Entrei em desespero, estávamos sendo atacados.

Ouvi os primeiros disparos e os primeiros gritos.

E então, corri.

Continuação...


1 comentários:

Adyla Gonçalves disse...

E muito dificil de ler pq sua letra e muito escura coloca uma mais clara ...
=D

Postar um comentário