quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Relatos de um sobrevivente

Prólogo 

As prosas de um velho




Já parou para imaginar o mundo depois do mundo? Como serão as coisas quando nós, seres humanos, abandonarmos tudo isso? O que deixaremos para trás, o que os arqueólogos de outras civilizações encontrarão, quando pousarem suas naves espaciais neste lugar, num recanto qualquer do universo, do qual intitulamos Planeta Terra, essa imensa bola da qual vivemos?

O legado que os homens deixarão, será um legado de pedras. Escravos que com seu suor construíram as imensas pirâmides, romanos que ergueram fóruns, estátuas, e o próprio Coliseu, com a força de seus músculos, e pontes, arranha-céus, cidades verticais inteiras, criadas onde antes, só existiam árvores e animais.

Imagine todas essas imensas construções, deixadas à própria sorte, depois que nós, seres exóticos, tivermos partido?

Cidades inteiras abandonadas, as águias fazendo seus ninhos nas coberturas de prédios que antes custavam fortunas a qualquer ser humano. Lobos atravessam as ruas em busca de coelhos e ratazanas para se alimentar. Árvores e pequenas plantas começam a vencer, aos poucos, o asfalto. Trepadeiras começam a escalar as paredes. Um prédio ou outro cai, deixando montes de entulhos e alguns animais mortos, logo também devorados por outros animais. E carros, milhões e milhões de automóveis abandonados.

Outro grande legado do ser humano: Plástico, pneus, caixinhas de McDonald's, alumínio, copos descartáveis. Em parte esse lixo passará a fazer parte da terra, e com o tempo irá sumir, e se mesclar novamente a natureza. Depois de muito tempo quando que os seres humanos já não habitarem a terra como habitaram outrora, o lixo será paisagem natural de toda essa natureza. Uma lembrança constante aos descendentes, de o que a civilização à que eles pertenceram, que um dia dominou o mundo, deixou apenas aquilo para trás.

Lixo.

Você consegue imaginar essa cena? Consegue absolver a imagem, de grandes pontes cobertas por plantas e afundadas nos mares? cidades esquecidas pairando desertas, sem os sons do trânsito, dos gritos, buzinas, risos e choros constantes, e apenas um eco de silêncio lembrando aos que sobreviveram, a glória de um passado que já não existe mais?

Consegue imaginar este mundo?

Pois bem, é neste mundo que eu vivo.



Nestes rascunhos que escrevo, nessas noites frias e chuvosas de verão, me lembro dos meus anos de jovem. Cresci ouvindo histórias de grandes heróis e vilões do passado. De quando o ser humano se julgou acima da natureza, e essa o consumiu sem pena nem piedade. Do mundo antes das catástrofes começarem, e o lugar onde eu vivo, que já foi chamado de terra dos guaranis, novo mundo, e nos últimos suspiros da humanidade, politicamente denominado "Brasil", ainda ser um lugar para samba, futebol e belas mulheres..

Lembro de certa vez ter encontrado restos de uma revista. Era de um nome engraçado, "Play Boy", Algum dialeto que se perdeu no tempo talvez. Era uma uma revista que mostravam mulheres nuas, e se dizia que aquelas mulheres ganhavam fortunas para estar ali. Folheei os restos das páginas rasgadas, mas inteiro ainda estava o nectar daquela preciosidade. As fotos de uma bela mulata de cabelos cacheados, corpo magro e bonito, deliciosamente contornados e definidos, algo inimaginável. Uma mulher digna de sonhos. Não havia imperfeições, não havia defeitos, era uma delícia digna de ser fodida. Eu cheguei a duvidar que algum dia, mulheres daquele jeito houvessem existido. Parece que no passado as pessoas podiam ser realmente perfeitas, ou quase isso.



Lendas e superstições são cantadas sobre como foram aqueles tempos em que nós, humanos, éramos os senhores da Terra. Pouco se sabe sobre como viviam nossos antepassados. 

Muitas línguas se perderam, muitos livros foram impiedosamente consumidos pelo tempo, mas a quantidade de restos que encontramos, não deixam dúvidas de que eles criaram e consumiram coisas suficientes para a humanidade inteira, em pouco mais de 300 anos. 

Chega a ser divertido olhar para os restos de uma loja  "McDonald's", nesta cidade deserta, e imaginar que pessoas entravam ali e encontravam comida pronta e preparada, eram servidos em 3 minutos, comiam em 5, e saiam satisfeitos logo em seguida. Realmente estranho.

Minhas lembranças, as lembranças de um velho cansado, podem se misturar e serem contadas aleatoriamente caso eu não me coloque na linha enquanto desenho as palavras deste livro de memórias. Peço que me entendam caso alguma parte do passado se perca, ou se eu aumentar um ou dois fatos. Acontece quando você, assim como eu, consegue sobreviver à selva dos dias de hoje, e viver pouco mais de cinquenta verões. Dizem que noutros tempos, os homens podiam viver até cem anos! Não consigo me imaginar vivendo duas vezes tudo que já vivi. Realmente, o mundo mudou.

Não sei também por onde começar este livro de relatos, pois bem, vou começar do dia em que vi o desconhecido pela primeira vez. Foi na flor da minha juventude, quando eu já havia sido promovido sargento nas forças de defesa de nossa antiga comunidade, e encontramos o forasteiro vagando pelas ruas do nosso lado dos restos da cidade.

Não vou contar tudo desde já, para não tirar a graça dos suspenses e aventuras que ainda haverão nesta narrativa, tudo a seu devido momento. Ah! Foram anos duros aqueles, anos acinzentados, mas também, anos felizes. Os anos em que a Raça Humana finalmente reaprendeu a sorrir.

E que sorrisos, e que aventuras.

Pois bem, que a história comece.

Continuação...


1 comentários:

Rodrigo disse...

VOU ACOMPANHAR....MUITO BOMM!

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