domingo, 14 de novembro de 2010

Entre Saltos e Armas

Nota da autora: Primeiramente gostaria de pedir desculpas pela demora de postar estou atolada de coisas para fazer. Porém postei um pouco mais de como de costume. Obrigada.

-
Por Tatiane Galimberti


Capítulo Terceiro

Ver Richard depois de algum tempo, era no mínimo atordoante.
Quando pensei que já estivesse completamente curada de toda aquela coisa que um dia sentimos um pelo outro eu digo “coisa” porque não tenho um nome correto para denominar. Ele agora estava à minha frente, pronto para mexer completamente com as minhas emoções.
-“Quero que viaje comigo”. – Ele agora me encarava como se soubesse com extraordinária convicção o que era o certo para mim.
Dei uma risada forçada.
-“Viajar com você? Vai me levar a força? Devo chamar um advogado? Ah, espera... eu sou uma advogada”. – Eu ri ironicamente.
Ele também riu, mas a impaciência estava ficando evidente em seu rosto.
-“Você nunca me amou, não é?”. – Ele perguntou por fim.
“Não”. – Respondi.
-“Pelo menos agora eu sei, e não tenho que conviver com a incerteza de que fiz algo errado, para você ter fugido, você apenas me usou, muito inteligente da sua parte, na verdade”.
-“Bem, agora que você sabe, pode voltar para casa”. – Fui logo me preparando para se levantar da mesa, e finalizar o meu encontro por ali.
-“Ei, ei... espere. Ainda tenho notícias que te interessam”. – O garçom agora se aproximava novamente com uma garrafa de Whisky que provavelmente ele já tinha pedido antes mesmo de eu chegar.
-“Mesmo você tendo me usado esse tempo todo, sinto que ainda tenho que te ajudar”.
Engoli seco o que ele havia acabado de dizer.
Acho que não tem outro jeito, e você precisa saber de algumas coisas agora. Então vou tentar resumir ao máximo.
Quando era juíza em Seattle, sempre tive que lidar com todo o tipo de gente. Em alguns casos, tudo corria perfeitamente bem e dentro da lei. Em outros, nem tanto.
Eu havia condenado um poderoso chefão da máfia, como dizem... Para mim não passam de criaturas nojentas e repugnantes. Mas depois dessa condenação, minha vida começou a se tornar um verdadeiro inferno.
Eu era constantemente ameaçada com telefonemas, cartas, e-mails e nos mais diversos lugares. Eles pareciam me conhecer muito bem, e isso era assustador.
Eu digo “eles” porque eu tenho certeza que o grupo por trás disso, não era nada pequeno.
Meu carro já estava blindado, minha casa estava sendo vigiada por seguranças, meu marido e meus filhos foram privados de sair de casa, até mesmo de ir trabalhar e ir à escola.
Eu tive de forçar o meu marido a não ir trabalhar e isso acabaria com a vida de qualquer pessoa normal, até tentarem descobrir quem eram as pessoas por trás disso, o que gerou um problema enorme em nosso relacionamento.
Meu casamento já estava entrando em uma falência total. Na verdade eu me sentia a pior pessoa do mundo.
Por que meus dois filhos gêmeos de oito anos e meu marido tinham que sofrer as consequencias, por conta da carreira que eu resolvi seguir?
Ele não dizia isso em voz alta é claro, ele tinha um enorme respeito por mim por mais que estivesse zangado, mas era claro que ele estava começando a me odiar por aquela situação desesperadora. E isso não foi nem o começo.
Dois meses de restrições, procurando caminhos alternativos todos os dias para voltar para casa, passando noites em claro sem dormir e vendo meu marido se afastando cada vez mais de mim, até que tudo cessou.
Eu não sabia como havia parado. Mas todas aquelas ameaças haviam acabado.
Meu marido então, decidiu que já era hora de voltar ao trabalho e as crianças voltarem à escola.
Eu argumentei que poderia ser cedo demais. Eles poderiam estar blefando, justamente para nos pegarem desprevenidos, e eu tinha certeza que eles não iriam fazer nada comigo, porque era uma ideia estúpida, eles precisavam de mim para obter o que quisessem. Iriam em cima de alguém da minha família apenas para me atingir. E eu precisava protegê-los.
Mas Robert não me deu ouvidos.
Ele já estava cansado de ficar em casa e de se sentir impotente. Eu não tiro a razão dele. Mas o que mais eu poderia fazer em uma situação dessas?
Os investigadores já estavam fazendo o seu trabalho com enorme eficiência. Disso eu não podia reclamar.
E foi aí que conheci Richard.
Ele era o investigador que iria me ajudar no caso. E à medida que nos conhecemos nos tornamos grandes amigos. Passávamos grande parte do tempo juntos, trabalhando.
Eu precisava me certificar de que todas essas pessoas estariam presas, e assim eu poderia dormir tranquila, sabendo que a minha família estava segura.
E nessas alturas meu casamento já havia praticamente acabado. Só não estávamos com disposição de entrar naquela batalha judicial de divisão de bens. Mas tanto eu como ele sabíamos que não teria mais jeito, e quando esse caso terminasse, colocaríamos um fim naquilo.
O que mais me deixava triste, em relação ao divórcio era que ele com certeza iria pedir a guarda das crianças e iria conseguir. Eu não tinha como ficar com eles nessas circunstancias. E ele poderia utilizar isso contra mim e ganharia facilmente.
Outra coisa em relação ao divórcio que me deixava completamente arrasada, era o fato de que quando você está tanto tempo com alguém, nunca imagina que isso acabaria com tamanha indiferença. Ou pior, que acabaria.
As ameaças começaram a seguir um padrão. Primeiro elas tinham um período intenso, e depois elas cessavam.
Já fazia parte da minha vida receber um “Bom dia, vou te matar”.
Eles pareciam estar infiltrados dentro da minha mente. Não importava o quanto eu fugisse.
Mudamos-nos de casa, trocamos inúmeros celulares, telefones, computadores. No final de tudo, preferíamos evitar usar qualquer tecnologia que nos denunciasse. Mas eles sempre me encontravam.
Meu trabalho com Richard estava indo bem. Conseguíamos pistas valiosíssimas, mas sempre que estávamos perto de acabar logo com isso, sempre algo dava errado.
Eu tentava ao máximo dar tudo que os meus filhos precisavam. Eles eram a minha prioridade. Era só o que me importava, mas eu já estava entrando em desespero.
Nas poucas vezes em que eu chegava em casa, Robert mal falava comigo. Eu não tinha aonde encontrar qualquer tipo de conforto, me sentia completamente sozinha. Exceto por aqueles dois garotinhos. Ryan e Bryan.
Se eu consigo falar sobre eles, e até citar seus respectivos nomes hoje, é porque eu sou uma pessoa muito forte. Ou talvez meu ex marido estivesse certo, eu não tenho coração.
O fato é que eu estava desolada, e Richard estava sempre do meu lado, e acabamos nos apaixonando. Nessa época não fizemos nada, até porque eu não estava em clima de romance, muito menos de adultério, eu só me tinha dele o conforto que eu não tinha de Robert.
Até que um dia, o pior aconteceu.
Conseguiram sequestrar a mim e meus filhos. E aqueles cinco dias sob domínio daqueles monstros, são dias em que jamais vou esquecer. E que estão presentes sempre em meus pesadelos angustiantes.
Não vou conseguir falar detalhadamente o que aconteceu agora, mas... se meus filhos ainda estivessem comigo, tudo seria melhor.
Eles podiam ter atirado em mim. Eu era a culpada por tudo aquilo. Mas preferiram me matar de outra forma, da pior forma possível.
Essa foi sem dúvidas a fase mais difícil da minha vida. Tentei me matar quatro vezes. Mas se anjos da guarda existem, o meu com absoluta certeza era pós-graduado em suicídio. Aquelas ameaças e o medo, não eram nada comparadas ao que eu sentia no momento.
Robert só ficou comigo, porque ele sabia que se me deixasse sozinha, eu iria finalmente me matar. E ele também estava com medo e arrasado, também se sentia culpado, tentou ao máximo não dificultar as coisas para mim, me jogando qualquer tipo de culpa. Mas eu sabia que no fundo o que ele mais queria era descarregar toda a sua raiva em cima de mim, a verdadeira culpada. Ele então não saiu de casa, teria sido bem melhor para nós no final se ele tivesse saído, mas nele não saiu. Continuamos juntos e ao mesmo tempo separados, fizemos todos os tratamentos psicológicos necessários e comecei a tomar antidepressivos que me ajudaram bastante. Nossos amigos, parentes, colegas de trabalho tentaram nos ajudar nesse momento, mas nada conseguia acabar com a dor que sentíamos.
O problema maior veio depois de um tempo.
A minha sede de vingança.
Eles não conseguiram encontrar essas pessoas. Eles tinham matado os meus filhos! Eles tinham destruído a minha família e a minha vida! Eu não podia deixar isso assim, eu precisava fazer justiça. E se tivesse de ser com as minhas próprias mãos, seria.
Depois do que havia acontecido, eu e Richard nos afastamos por um tempo. Não foi ele quem decidiu isso, fui eu. Eu me sentia culpada em ter algum tipo de sentimento em relação a um homem agora. Sentia-me culpada por tudo. E não merecia ser reconfortada por ninguém.
Foi ai que eu decidi voltar a trabalhar e procurei Richard.
Se antes eu trabalhava compulsivamente em cima desse caso, nessa época eu cheguei ao extremo da obsessão.
Richard não queria mais trabalhar comigo. Ele queria apenas, ficar comigo e me consolar enquanto dividiríamos uma taça de champanhe na cama.
Disse à ele que se quisesse mesmo ficar comigo teria que me ajudar no trabalho. E o consolo e a diversão viriam depois.
Entenda que eu gostava dele, estava realmente apaixonada por ele, se minha vida estivesse normal, eu provavelmente já teria me separado do meu marido e me jogado nos braços dele. Mas a minha prioridade agora não era ter um bom amante comigo. Era encontrar os assassinos dos meus filhos.
Mas se você pudesse ter um detetive e um amante. Por que não, juntar o útil ao agradável?
Então começamos ter uma relação trabalho e sexo. Eu admito que não fui muito digna, e que era mesmo uma vadia, segundo Robert depois de ter descoberto sobre a gente. Mas pelo menos com a minha falta de moral, conseguimos colocar todos os integrantes da máfia na cadeia. E se você me perguntasse agora se havia me arrependido da traição, diria sem pensar duas vezes, que não.
A justiça foi feita.
Meu marido descobriu o adultério da forma mais cruel possível.
Nos separamos formalmente, destrutivelmente e horrivelmente.
E eu vim para Nova York, e aqui estou.
Talvez com esse resumo, você consiga compreender melhor o turbilhão de emoções que estão passando por mim, nesse exato momento.
-“Ajudar-me em que?” – Perguntei a Richard.
-“Não estão todos presos, Louise”. – Ele abaixo o tom de voz e olhar.
Eu dei uma risada nervosa, ele só podia estar brincando comigo.
-“Você pode estar com raiva de mim Richard, mas utilizar isso é muito baixo”.
-“Na verdade, foram eles que me mandaram sua exata localização em NY por e-mail”.
Eu estremeci. O inferno ainda não havia acabado.

0 comentários:

Postar um comentário