Por Antonio Fernandes
O suor escorria pegajoso por sua testa, descendo até um dos seus poderosos olhos, que piscaram, espalhando-o.
Ele vinha andando pelo mundo já fazia um tempo. Lutou contra guerreiros perversos, monstros horripilantes, e salvou mulheres indefesas, mas aquilo que estava em sua frente, era um desafio que ele jamais havia visto antes.
Eram três gigantes. Monstruosos, aberrações, cerca de 5 metros de altura. Fortes, invencíveis, imortais.
E eles riam. Riam do cavaleiro, que mesmo com toda sua bondade e senso de justiça, toda sua vontade de salvar pessoas e melhorar o mundo, era incapaz. Era fraco perante aquelas horripilantes criaturas. Impossível ler o que quer que estivesse pensando.
Pensou em seu fiel escudeiro. Homem valoroso aquele que tinha ao seu lado, e corajoso também. Morreriam juntos, lutando contra os males do mundo. Bela morte. Bela morte.
Então seria assim que tudo terminaria. Bom, fora uma boa causa. O amor de sua vida iria chorar quando soubesse que ele, um glorioso cavaleiro, que andou por esse mundo ajudando os oprimidos e reprimindo os maus, estava morto.
Morto. Desmificado. Sem vida. Enterrado. Sete Palmos. Passageiro de Caronte. Visitante de São Pedro. Hospede do Céu. Foi-se desta para melhor. Uma pena. Uma pena.
Ele, grandioso e valoroso guerreiro, se pegou imaginando os pobres mortais cantando cantigas e histórias em seu nome, sobre como ele correu poderoso contra três malditos gigantes, rumo a morte, para que um dia, talvez, o mundo se tornasse um lugar melhor pra se viver. Um dia.
Imposto em glórias e louros, ele, cavaleiro, guerreiro, homem, baixou seu capacete, segurou sua lança e partiu a galope, em seu unissomo cavalo branco.
Cavalgou sentindo o vento cortar suas faces, poderoso, pespicaz, ele encarava os gigantes, que riam. Riam. Choravam de rir da sua presença. Humilhavam-no. Mas ele nada iria temer, lutaria contra eles até a última gota de seu sangue.
Mas quando se aproximou, praparava seu primeiro golpe em um daqueles monstros, mas esse o agarrou, rodou-o e o arremessou longe.
Era uma umilhação. Ele caiu esparramado no chão. Sua lança quebrada, sua glória em pedaços, seus sonhos meio perdidos por alguns instantes. Ele não podia crer. Como o ma podia triunfar sobre o bem? Como um demônio daqueles poderia destruir assim, os sonhos de um homem bom e valoroso como ele, que nada mais queria que ajudar as pessoas do mundo? Uma sombra sob o sol se aproximou, por um momento pensou que seria o próprio monstro vindo liquida-lo, rezou sua última prece a Virgem Maria, esse seria seu fim. Mas deu um suspiro quando percebeu ser apenas, seu pequeno e fiel escudeiro.
- Senhor, que foi isso que o senhor fez?
- Ah Sancho, se soubesse quão dura é minha vida para livrar o mundo do mau, que tanto maltratam as pobres almas que nele habitam. Um dia Sancho! Um dia, eu tornarei esse lugar, um lugar bom para se viver.
Montou em seu corcel branco, bateu a poeira de suas roupas desbotadas, e lá se foi Dom Quixote De La Mancha, cego de vontade por fazer o bem, fosse contra gigantes, ou contra moínhos. A diferença entre os dois, quem sabe? Só o coração de um bravo cavaleiro em busca dum mundo melhor poderá estabelecer diferenças o certo e errado.
E lá se foi Quixote, Cavaleiro honrado, herói dos que sonham. Perdido de esperanças. Um dia, ele há de conseguir.
Um dia.
Um dia.
E os moínhos ainda giravam. C'est la Vie.
domingo, 21 de novembro de 2010
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