segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Os Corsários

Capítulo Primeiro


Foi numa noite chuvosa que a polícia invadiu uma pequena casa nas periferias de Bristol. Flocos de neve caiam anunciando as vésperas dos meses natalinos, as ruas da cidade, já enfeitadas de renas e pinheiros reluzentes aguardavam felizes a chegada daquela data feliz.
Capitão Thompson secou os pés na soleira da porta e retirou sua capa de chuva depois que seus homens arrombaram a casa. Era hum homem alto e corpulento, de contornos fortes e olhar duro.
Jogou sua capa e foi adentrando os aposentos como se fossem seus. Uma mulher pequena e magra entrou em sua frente antes que alcançasse a porta, ele contraiu as sobrancelhas, parou e cruzou os braços.
- Senhorita Girard, eu lhe avisei que isto poderia acontecer, por favor, saia da frente.
- Ele não fez nada! Eu juro que não fez nada! Meu filho é inocente, estão incriminando ele! Desgraçados filhos da puta, Jesus! Jesus irá fazer vocês sofrerem nos fogos do inferno seus... aaaaaaaaah!
Dois policiais pegaram-na pelos braços e a tiraram da frente enquanto a pequena mulher esperneava e gritava, dando mostras de muito mais forças que aparentava de começo.
O capitão balançou a cabeça com pena e avançou. Não era um homem que gostasse do uso da força. Em geral, sempre fora um cavalheiro enquanto patrulhava as ruas de Bristol, sua cidade natal, mas desta vez, iria resolver de uma vez por todas aquele calo que atormentava seu pé já havia bastante tempo.
O garoto Oliver havia acabado de completar seus dezoito verões. Tinha os olhos de seu falecido pai, que o Senhor o tenha, morto numa briga de bar muitos anos atrás. O garoto cresceu sem ele, rebelde e sedento pelas ruas e guetos, sempre dado as malandragens, coisa natural, já que nunca teve um pulso forte que o socasse para amparar juízo em sua cabeça oca.
Por mais que Thompson tivesse gostado muito do pai do garoto, não podia deixar de balançar a cabeça pelo triste fato de ter de prender o filho do sujeito. Mas ele pedira, por Deus, o garoto fez coisas que estavam além de sua capacidade de ajudar.

O capitão girou a maçaneta e entrou no quarto. Do outro lado do cômodo, sentado numa cadeira de frente para um laptop, estava um garoto alto de cabelos negros e lisos, que brilhavam a luz fraca de velas.

-Então, vocês me acharam?
-Senhor Oliver Evans Girard, o senhor é acusado de formação de quadrilha e vandalismos, e deve nos acompanhar até a o 23° departamento de polícia de Bristol, onde passará a noite, e deporá amanhã pela manhã em tribunal. O senhor tem direito de ficar calado, pois tudo que falar poderá ser usado contra você em tribunal, tem também direito a um advogado.
O capitão ficou parado com a mão na maçaneta, encarando o garoto. Ainda não caíra a ficha que estava prendendo o filho de Daniel Evans, seu amado amigo.
-Então, você era chegado ao meu pai, senhor Thompson? deve ser difícil para o senhor me levar para o tribunal não é? vão ficar todos chocados no bairro quando souberem afinal que era eu, por trás daqueles atos "horrendos"! - exclamou a última palavra com um tom engraçado e irônico.
O garoto se levantou da cadeira e olhou para os olhos dele, um olhar de quem esconde o desespero numa máscara de excitação e curiosidade. Tinha olhos verdes profundos e brilhantes que ficaram sinistro a luz das velas, e encararam o policial, uma de suas mãos estava enfiada no bolso, enquanto a outra segurava a cadeira tremendo.
-Nunca imaginei que você fosse capaz de uma coisa dessas filho, agora, vamos andando, não quero ter que usar força contra você.
O garoto foi andando lentamente em direção a porta, mas ainda assim encarando o capitão com um olhar sinistro.
-Você não acha mesmo que eu vou me entregar fácil assim não é?
A mão dele voou para fora dos bolsos, um canivete já aberto estava firme ali, e se dirigiu com uma velocidade absurda até o pescoço do capitão, que segurou o pulso do garoto com agilidade, dobrou o braço e socou a boca do seu estômago. Depois da reação, tudo ficou mais fácil.
-Não devia ter tentado gracinhas, meu gosto por seu pai só vai até certo ponto.
Saíram da casa, enfiaram ele na viatura com desprezo e socaram a porta. Em meio a chuva e neve, uma mulher pequena e fraca saiu de sua casa e olhou para o carro, lá de dentro, por trás de grades, seu filho a olhava com um olhar de socorro, mas era tarde demais, ele fora pego, e nunca mais a veria.

Nunca mais, nunca mais.

1 comentários:

Anônimo disse...

bacana :D

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